Após caso de troca de etiquetas, companhias aéreas estudam reforço na segurança nos aeroportos
Após a ampla repercussão do caso das duas brasileiras presas na Alemanha por conta de etiquetas de malas trocadas por bagagem com drogas no Aeroporto de Guarulhos (SP), as companhias aéreas estudam um plano para os próximos dias para aumentar a segurança aos passageiros.
A questão é de responsabilidade das companhias aéreas, segundo informou a GRU Airport, concessionária que cuida do aeroporto. As empresas aéreas contratam terceirizadas que fazem a parte do despacho das malas na área restrita.
De acordo com apuração da CNNas companhias devem rever a forma de contratação das empresas terceirizadas e aumentar o rigor em relação aos terceirizados, além de aumentar a fiscalização, principalmente com as câmeras em pontos-cegos, onde não há câmera e que seria usada para trocas de etiquetas.
A ideia é começar pelo Aeroporto Internacional de São Paulo, mas a possibilidade de o plano se estender para outras regiões não é descartada. A Polícia Federal deve auxiliar com sugestões para melhoria na segurança.
Em nota oficial, a Latam, empresa onde aconteceu o caso das brasileiras presas na Alemanha, disse à CNN que “está constantemente buscando a segurança e a eficiência no manejo dos milhões de volumes que são transportados todos os dias”.
A Azul, também em nota, informou que “todos os tripulantes e parceiros da companhia são devidamente treinados e seguem protocolos internos de segurança e qualidade, atuando integralmente de acordo com as recomendações do órgão regulador, bem como cumprindo normas legais vigentes e aplicáveis”.
E complementa: “a companhia ressalta, ainda, que está sempre discutindo atualizações e melhorias em processos que garantam que o cliente tenha a melhor experiência ao viajar com a Azul.”
A Gol informou que “cumpre a legislação aplicável no que tange ao transporte de bagagens”.
Medida preventiva
O ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, afirmou na quarta-feira passada (19), que o governo federal vai dialogar com os aeroportos internacionais no Brasil para que as malas sejam fotografadas antes do embarque de voos para o exterior.
A intenção, relatou, é que o passageiro já receba no celular a fotografia da bagagem antes de embarcar. Em sua avaliação, a fotografia é um “passo simples” que pode aumentar a segurança das malas e o bem-estar de passageiros.
Segundo França, o assunto já foi discutido com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, uma vez que a pasta é responsável pela Polícia Federal (PF).
Liberação
Na sexta-feira (21), a 6ª Vara Federal de Guarulhos, na Grande São Paulo, mandou soltar uma mulher de 35 anos, presa suspeita de ter participado do esquema de envio de droga para Alemanha, descoberto depois que o casal de brasileiras foi para a cadeia injustamente por ter tido as malas trocadas pela quadrilha no aeroporto de Guarulhos.
A decisão da Justiça contrariou o pedido da Polícia Federal e o parecer do Ministério Público Federal. Segundo os investigadores, a mulher aliciava funcionários do aeroporto para participar do esquema de troca de etiqueta das bagagens.
Esquema com PCC
Após a prisão de suspeitos por troca de bagagens no aeroporto, a Polícia Federal investiga a ligação do grupo com Primeiro Comando da Capital (PCC). A investigação aponta que a relação dos suspeitos com o crime organizado é mais ampla do que ‘apenas’ uma quadrilha de tráfico de entorpecentes.
Segundo relatório da PF, o crime organizado vem recrutando funcionários terceirizados que trabalham em áreas restritas dos aeroportos desde 2019. A atuação ocorre em várias frentes: do despacho da mala até a chegada da bagagem na Europa, onde a droga é retirada e vendida nos países europeus com selo brasileiro.
De acordo com a polícia, os funcionários poderiam receber, em média, R$ 30 mil por cada bagagem com cocaína despachada para o exterior. O valor equivale a mais de um ano de salário de cada profissional, que gira em torno de R$ 1.600 por mês.
Segundo os investigadores, o PCC prefere recrutar funcionários que não tenham ficha criminal, para não levantar suspeitas ou, em caso de prisão, não tenham pena maior.
Brasileiras presas na Alemanha
No início de março, Jeanne Paolini e Kátyna Baía tiveram as etiquetas das bagagens trocadas por malas com drogas, sendo detidas quando chegaram ao aeroporto de Frankfurt, na Alemanha. As vítimas descreveram o ambiente como “desesperador”, segundo informou a advogada que as representa, Luna Provázio Lara de Almeida.
Segundo apuração da Polícia Federal, ambas saíram do aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia (GO), fazendo escala no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP). Porém, neste segundo local, tiveram as etiquetas trocadas por um grupo criminoso com malas carregadas de drogas.
A polícia brasileira apontou uma série de evidências que comprovam que não há envolvimento das brasileiras com o transporte ilegal, pois não correspondem ao padrão usual das chamadas “mulas do tráfico”.
A liberação das brasileiras, no entanto, dependeu de pedido formal do Itamaraty e do Ministério da Justiça brasileiros, que foi feito no dia 6 de abril. As brasileiras foram soltas no dia 11 deste mês, após mais de um mês presas.
Operação da PF
O caso das duas brasileiras presas na Alemanha foi descoberto graças à investigação da PF em Goiás. Em São Paulo, foram cumpridos seis mandados judiciais de prisão temporária contra funcionários de empresas terceirizadas que atuam dentro do aeroporto para as companhias aéreas.
À CNN, a GRU Airport esclareceu que o manuseio das bagagens, desde o momento do check-in até a aeronave, é de responsabilidade das empresas aéreas. E explicou, em nota, que quando ocorre um incidente, se reúne com as autoridades policiais para discutir melhorias nos protocolos de segurança.
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