Argumento no vídeo é uma coisa, intenção é outra, diz advogado de motorista
O advogado de Christopher Rodrigues, motorista de aplicativo que atropelou e debochou do vendedor ambulante, Matheus Campos, 21, suspeito de furtar um celular, afirmou nesta quinta-feira (4), que seu cliente tinha outra intenção em relação ao que disse à vítima do atropelamento.
“O argumento dele no vídeo é uma coisa, mas a intenção é outra. A questão de movimentar o carro, qualquer pessoa sabe que se ele engatasse a primeira marcha, fosse para frente ou fosse para trás, poderia lesionar anda mais o rapaz”, disse o advogado André Nino.
No vídeo, obtido pela CNNé possível ouvir uma pessoa falando a Matheus: “E aí, comédia. Tu vai roubar trabalhador, vai roubar trabalhador, seu cuzão? Não? Não vai sair daí não. Chama a Polícia. Só vai sair com a Polícia. Chama não.”
Na gravação, é possível ver Matheus balançando a cabeça e o dedo, fazendo sinal de negativo. De acordo com uma das irmãs de Matheus, Paloma Campos, a voz seria do próprio atropelador, Christopher Rodrigues, que segundo ela, teria compartilhado o vídeo em um grupo de motoristas de aplicativo.
Após o atropelamento, em 25 de abril, o motorista gravou um vídeo postado em suas redes sociais, no qual aparece debochando da situação. Sem demonstrar arrependimento, Christopher Rodrigues disse, entre outras coisas: “Menos um fazendo o L”, uma alusão ao símbolo dos eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante as eleições presidenciais.
O motorista também deu a entender que a vítima iria para o inferno.
A defesa de Christopher afirmou que o atropelamento foi acidental e, que, no momento da colisão, seu cliente não sabia que Matheus tinha sido acusado de furto. “Foi um vídeo talvez infeliz de ele ter feito no momento em que ele fez, mas a intenção de que ele quisesse que o rapaz morresse, não houve”.
Ainda de acordo com o advogado de Christopher, os vídeos feitos pelo cliente são “um desabafo de um cidadão que tá cansado de tanta violência”. O representante legal disse ainda que o motorista estaria disposto a prestar um novo depoimento.
O delegado titular do 5º Distrito Policial, Percival Alcântara afirmou que Christopher Rodrigues figura como investigado no inquérito policial.
“A Polícia Civil está tentando definir se houve um atropelamento acidental ou intencional, que seria o homicídio culposo ou homicídio doloso. Fora isso, o fato das postagens também que são criminosas, são absurdas, são postagens que podem ser já sim uma responsabilização criminal como incitação ao crime, além da omissão de socorro que ele possa ter efetuado”, disse Alcântara.
Depoimento de motorista furtado
A polícia ouviu, na quarta-feira (3), o depoimento do motorista de aplicativos que foi furtado. Segundo o delegado titular do 5º DP, em seu depoimento, a testemunha não conseguiu descrever exatamente o rosto da pessoa que o furtou.
O condutor disse ainda que houve um curto intervalo de tempo entre o furto e o atropelamento no viaduto Júlio de Mesquita Filho, no centro de São Paulo, e que o vendedor seria a única pessoa na via.
Pouco após o furto, a testemunha contou que ouviu um barulho, encostou o carro e observou seu celular no chão.
A CNN teve acesso o teor do depoimento do motorista que foi furtado. A testemunha afirma que carregava um casal: um homem na frente e uma mulher atrás.
“Quando olhavam para a esquerda, o declarante sentiu um impacto no painel e percebeu que seu telefone celular que ali estava havia sido furtado, e que o indivíduo que o furtou correu no sentido contrário ao fluxo dos veículos”, citou.
Ainda segundo o depoimento, a mulher que estava no banco traseiro do carro pediu para o homem que estava na frente chamar o resgate, desceu e foi olhar o que havia acontecido.
Segundo o motorista, a passageira e o condutor do carro que atropelou Matheus “tentaram parar uma ambulância que passava pelo local, mas o motorista disse que estava com um paciente”.
A testemunha ainda afirmou que a passageira e o motorista do veículo que atropelou o vendedor ambulante “pediram para uma viatura da GCM (Guarda Civil Municipal) que passava pelo local parar e socorrer a vítima”.
A defesa de Matheus Campos afirma, porém, que não há confirmação sobre as tentativas de parar os veículos na rua para pedir socorro e argumenta que ainda não é possível dizer que o celular foi furtado pela vítima do atropelamento.
Os assistentes de defesa da família de Matheus Campos querem a prisão preventiva de Christopher, além de que o caso seja tipificado como homicídio doloso.
O caso foi registrado inicialmente como “furto e morte suspeita/acidental”, mas o delegado titular do caso afirmou que a tipificação deve mudar no relatório final.
A Polícia Civil pretende ouvir, nesta sexta-feira (5), a irmã da vítima de atropelamento, Paloma Campos e outras testemunhas do caso. A ideia é cruzar os novos relatos com as informações já colhidas.
Os investigadores seguem em busca de imagens de câmera de segurança no local do atropelamento e também avaliam a possibilidade de chamar Christopher Rodrigues para depor novamente.
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