Crescimento econômico x Desigualdade educacional

Crescimento econômico x Desigualdade educacional

As recentes avaliações das agências internacionais sobre a melhora econômica do Brasil têm entusiasmado não só a equipe econômica do governo Lula, mas também o mercado, que colocou o dólar, na última semana, a patamares de maior baixa deste ano.

A bolsa tem dado sinais de recuperação e muitos economistas já começam a rever suas projeções de crescimento para o PIB. Um clima bastante diferente do início do ano.

No entanto, o clima econômico contrasta com indicadores que dão real sustentabilidade a qualquer projeto econômico a médio e longo prazo de uma economia.

Falo dos indicadores de educação, pois não existe país do mundo que conseguiu sustentabilidade econômica e desenvolvimento social a médio e longo prazo sem ter investido em educação – uma receita simples, mas que insistimos em não fazer essa lição de casa.

Números apresentados sobre educação esta semana pelo Semesp, instituto que representa as mantenedoras do ensino superior no Brasil, mostra que mais da metade dos alunos que entraram na universidade em 2017 e deveriam estar saindo da faculdade agora para ajudar nesta retomada econômica não se formaram.

A taxa de conclusão dos cursos foi de 26%; sendo que 18% continuavam na universidade. A evasão do ensino superior privado chegou a 36,6%; é a segunda maior de toda a série histórica, perdendo apenas para o ano de 2020. A inadimplência também cresceu nos últimos dois anos.

Nos cinco primeiros meses deste ano, cerca de 3,42 milhões de estudantes abandonaram as universidades privadas (lembrando que as universidades privadas ainda são as portas de entrada para maioria dos estudantes negros em nosso país).

O estudo mostra que o principal motivo de desistência é econômico. Cerca de 90% dos alunos que abandonaram o estudo têm como renda menos de três salários mínimos.

Esses últimos números nos fazem lembrar outros dados do PNUD, que apontam que 80% da população negra no Brasil não ganham mais que três salários mínimos, o que nos leva a crer que é exatamente a população pobre e preta que está sendo alijada novamente do processo educacional e consequentemente econômico.

O Brasil, ao longo de sua história, passou por vários modelos econômicos, planos, moedas, salvadores da pátria, ditaduras e até governo de extrema direita.

Neste último, a área da educação foi a mais abandonada, e parece que não aprendemos a simples lição: o entusiasmo da alta da bolsa e da baixa do dólar deve estar diretamente vinculado à elevação educacional, sem o qual não há ânimo de mercado que se aguente.

*As opiniões expressas nesta publicação não refletem, necessariamente, o posicionamento da CNN ou seus funcionários.

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