”Não consigo me ver numa sala de aula de novo”, diz professora que sobreviveu a ataque em SP

”Não consigo me ver numa sala de aula de novo”, diz professora que sobreviveu a ataque em SP

Com um braço apoiado em uma espécie de tipoia para proteger os curativos das suturas, a professora Rita Cássia Reis prestou depoimento ao 34° DP de São Paulo (Vila Sônia) na tarde desta terça-feira (28). Ela foi uma das vítimas esfaqueadas por um adolescente de 13 anos na escola estadual Thomazia Montoro na segunda-feira (27).

Em entrevista a jornalistas, Rita, que é professora há 12 anos, contou que não deve voltar a exercer sua função como antes. “Hoje, na minha cabeça, não consigo pensar numa volta. Não consigo pensar em me ver numa sala de aula de novo”.

A professora disse que não imaginava que se tratava de um ataque. “Ele veio na minha direção com a faca na mão. Tranquilo. Na hora você pensa que é uma brincadeira, qualquer coisa, menos que é uma agressão”.

Mas depois que o adolescente de 13 anos passou a desferir golpes, Rita temeu pela vida. “Achei que iria morrer, porque essas coisas, quando acontecem, sempre tem morte”.

Ela estava em sua sala, quando por volta de sete horas da manhã, ouviu gritos e abriu a porta, onde deu de cara com o estudante que acabara de esfaquear a professora Elisabeth Tenreiro, 71 anos, na sala ao lado”.

Após ter sido esfaqueada, Rita foi socorrida por uma estudante. “Me vem a imagem dele em cima de mim com a faca na mão. Eu me protegendo. Levei dois cortes nas costas, um no braço, tentando me proteger, gritando ‘para, para, para’. Uma aluna me socorreu, enrolou a blusa no meu braço. Minha gratidão neste momento é por essa aluna, que parece que me acolheu”.

Rita de Cássia chegou a ser professora do adolescente. “Como aluno, (era) muito quieto, muito reservado, (usava) fone de ouvido o tempo todo na vida. Bem alheio a tudo e briguento”, conta.

O delegado que investiga o caso, Marcus Vinicius Reis, disse que o adolescente afirmou, em seu depoimento na segunda-feira (17), que realizou o ataque pois teria sofrido bullying em ao menos três escolas onde estudou. O delegado reiterou que, apesar de ter confessado a motivação do ataque, e necessário cruzar as informações dos diferentes depoimentos e prosseguir com a investigação, para chegar a uma conclusão.

“Ele sofria bullying, mas bullying é muito recorrente nas escolas”, afirmou a professora. “Como educadora é muito triste, porque a gente procura fazer um papel relevante na sociedade e a gente vê a resposta de que isso não tá acontecendo”.

A professora caracterizou o ataque como uma “tragédia anunciada, porém pontual”, pois de acordo com ela, via de regra, os professores na escola são bem tratados. “Foi uma situação muito pontual. A gente não pode julgar todos os alunos por esse. A gente é muito acarinhado pelos alunos, nós somos muito bem recebidos pelos alunos.”

Questionada se recebeu apoio do Estado, a professora desconversou. “A gente pode pular essa pergunta”? E depois disse que não recebeu.

Por meio de nota, a Secretaria de Educação Estado de São Paulo afirmou que “todos os envolvidos no caso terão atendimento necessário sobre a saúde ou qualquer outra solicitação. Mas nesse momento, temos que aguardar a investigação da Polícia Civil e quais ações em relação ao retorno das aulas na escola”.

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