Pressão por revogação do novo ensino médio é briga política, diz ex-ministro da Educação

Pressão por revogação do novo ensino médio é briga política, diz ex-ministro da Educação

Nas últimas semanas, estudantes e professores fizeram manifestações em diversas capitais do país para pressionar o governo Lula a revogar

ISABELA PALHARES
SÃO PAULO, SP

O deputado federal Mendonça Filho (União-PE), que foi ministro da Educação no governo Michel Temer e responsável pela aprovação do novo ensino médio, diz que a pressão de estudantes e professores pela revogação do modelo é briga política.

“É um absurdo querer desmanchar uma política estruturadora, em processo de implementação, para colocar nada no lugar. Está claro que a briga é política, pelo fato de a reforma do ensino médio ter sido feita no governo Temer”, disse o ex-ministro à Folha.

Mendonça Filho se elegeu no ano passado como deputado federal por Pernambuco e tem defendido que seu partido, o União Brasil, seja oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele é também integrante da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados.

Nas últimas semanas, estudantes e professores fizeram manifestações em diversas capitais do país para pressionar o governo Lula a revogar a política. Eles argumentam que as mudanças na etapa esvaziaram os conteúdos curriculares ensinados e ampliaram as desigualdades entre escolas públicas e privadas.

A lei do novo ensino médio foi aprovada em 2017, por medida provisória. Os movimentos estudantis sempre foram contrários às mudanças e chegaram a ocupar centenas de escolas em todo o país para impedir a aprovação da lei.

Apesar de afirmar que tem “convicção” sobre a necessidade de continuidade da política, ele reconhece que ajustes são necessários. “Não podemos permitir que usem politicamente as dificuldades inerentes a um processo de implementação de um modelo novo para propor revogação”, disse.


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“Dificuldades existem? Ok. Vamos nos mobilizar para superá-las. O que não pode é voltar modelo anterior onde o aluno não aprendia.”

Ele também atribui as dificuldades enfrentadas com o novo modelo ao fechamento das escolas durante a pandemia e a falta de apoio do MEC, durante o governo Jair Bolsonaro.

“A implementação começou no ano passado, depois de dois anos de escola fechada pela pandemia. Não teve tempo suficiente para formação de professores, as redes estaduais praticamente tocaram sozinhas a implantação diante da falta de coordenação nacional do MEC.”

“Como toda política pública estruturadora, o Novo Ensino Médio precisa de apoio técnico e financeiro e de tempo para ser totalmente implantada”, defendeu.


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Questionado sobre as escolas estarem ofertando disciplinas como “Torne-se um milionário” ou “Brigadeiro gourmet” no lugar de conteúdos tradicionais e cobrados nos vestibulares, Mendonça Filho defendeu que são exceções.

“É preciso verificar caso a caso. Se houver algum desvio, deve ser corrigido. Alerto apenas para que exceções e possíveis desvios não sejam usados para manipular o debate, que deve ser sério, apenas para servir a interesses que não sejam o da educação de qualidade.”

O atual secretário de Educação do Pará, Rossieli Soares, que era titular da Secretaria de Educação Básica do MEC na época da aprovação do novo ensino médio, também defendeu a continuidade da política.

“Todos os indicadores do ensino médio já apontavam o quanto o modelo anterior estava falido. O formato atual foi construído por mais de 30 anos, por vários governos. O maior problema, hoje, é o da implementação. Pela falta de foco, de apoio, de priorização verdadeira e necessária para que ela seja implementada de forma igualitária por todos os estados”, disse Soares.


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